quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Adriana Godoy- "Marco" - Resenha



Não só o nome do novo cd de Adriana Godoy é “Marco”, como todo o enfrentamento musical presente na voz, composições e arranjos do disco também o são.



Disco bom é aquele que dá vontade de sair cantando ou tocando. E é o que acontece com este CD, que traz também Débora Gurgel dividindo a produção. Adriana, citada por Débora como pura emoção, não traz essa vocação por acaso. Filha do maestro e compositor Adylson Godoy e da cantora Silvia Maria, iniciou sua vida musicista estudando piano para depois descobrir seu verdadeiro instrumento, a voz. De lá para cá, desenvolveu sua personalidade artística, trabalhando em projetos com importantes nomes da música brasileira, entre eles, Filó Machado, que também presenteia os ouvintes como convidado neste novo CD.





Adriana, além de ser dona de uma voz que desenha inconfundíveis letras e notas no ar, é extremamente generosa com os músicos que a acompanham, dando liberdade e deixando tocar…




Destaque para as músicas "Outras notícias da Praça Central" e "Vento Bravo"


Links e vídeos:
http://www.myspace.com/adrianagodoy


http://www.adrianagodoy.com.br/


http://www.youtube.com/watch?v=ggG8FY3bBlY - Adriana Godoy - Video Release - CD Marco (EPK)

http://www.youtube.com/watch?v=febyVKeHDUE&feature=related - Preta Porte de Tafeta, Adriana Godoy, lançamento do CD MARCO (julho 2010)


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Rodrigo Digão Braz – Improvisando na vida e na música




Entrevistei Digão pela primeira vez em 2009 para o blog Música Contemporânea. Agora, recentemente, tive a feliz oportunidade de continuidade do papo abrangendo ainda mais a questão da improvisação. Fato que me deixou extremamente contente, pois sem dúvida foi uma das entrevistas mais satisfatórias e emocionantes que já realizei com alguém, pela generosidade, disponibilidade e transparência que o Digão proporcionou ao abrir os calabouços de seus pensamentos de vida e música. Um presente;



Para quem não viu a primeira entrevista ou o que seria a primeira parte de um todo, vai aqui o link:







Vamos à matéria completa desta “segunda” parte:



Improvisar é algo que não se aprende na escola. Na música, essa lei é ainda mais presente. Rodrigo Digão Braz leva ao pé da letra esse aprendizado (ou não-aprendizado). Baterista e percussionista, tem como projeto principal o grupo "Mente Clara", que traz como base a estética da "Música Universal" de Hermeto Pascoal. É também professor do Conservatório de Tatuí, e já tocou com nomes como Renato Consorte, Ai Yazaki (pianista Japonesa), Michel Leme, Thiago Righi e Fernando Corrêa.



Vamos à entrevista:


-- Música improvisada, para ser notada em toda sua intensidade, tem a singularidade de "dever" ser vista e ouvida ao vivo?

Caro Caio, primeiro quero agradecer mais uma vez pelo convite para essa entrevista e dizer que sua coluna (blog) é de muita valia para o desenvolvimento da música brasileira no Brasil (por incrível que pareça, precisamos desbravar a nossa música em nosso país) e desta para o mundo. Quanto à pergunta, não necessariamente. Mas é claro que sua particularidade vivenciada na hora da criação é uma coisa mágica, trazendo sensações tão peculiares aos ouvintes que talvez em um novo momento não se manifeste. Entretanto, nós músicos – ou meros ouvintes (muitas vezes os melhores ouvintes, pois estes vão para ouvir a música sem nenhum rótulo ou pré conceito) – também somos pesquisadores, e sua análise posterior (no caso, de uma gravação) é muito válida para entendermos os caminhos que grandes compositores e improvisadores estão "trilhando" dentro da música apresentada.

-- Como foi a trajetória musical em sua vida?

Eu comecei tocando piano (fui obrigado, felizmente, pela minha mãe, Dona Lourdes ou Lurdinha). Também fiz aulas de violão, mas os estudos de música começaram a ficar sérios aos 15 anos, quando ingressei no curso de Música da Fundação das Artes de São Caetano do Sul, agora tocando bateria. O fato engraçado é que mesmo na Fundação, eu ainda estava sendo obrigado a estudar música, pois nesse período eu tinha como meta na minha formação profissional a engenharia – nesta fase, eu estudava Mecatrônica em um colégio técnico. Com 17 anos eu tive a minha decisão, optando por essa arte que faz de mim uma pessoa mais feliz e ao mesmo tempo me demonstra sabedoria para o meu autoconhecimento. Desde então, meus projetos musicais foram voltados para o desenvolvimento da criação (música própria), e tudo isso conciliado com trabalhos com cantores e artistas em geral. Aos 20 anos, cursando meu último ano de Fundação, fui para o Conservatório Dramático Carlos de Campos Tatuí, onde estudei por um ano e meio, e desde 2001 leciono no curso de Bateria e Percussão Complementar.

-- Quais são seus projetos atuais?


Meus projetos atuais: Tenho um grupo, que já tem 11 anos, chamado Mente Clara, com dois discos gravados, o homônimo Mente Clara e São Benedito; O Trio Paulista. Este foi devido a uma necessidade de espaço, já que é base do grupo Mente Clara, com Franco Lorenzon e Fábio Leal. Inclusive estamos com um projeto chamado ‘Trio Paulista Convida’, uma vez por mês na casa Jazz nos Fundos, em São Paulo, onde tivemos na primeira noite o conceituado Fernando Corrêa (Guitarra) e ainda teremos André Marques (Piano) em outubro de 2011 e Fábio Torres (piano) em novembro de 2011; Outro trabalho interessante é um trio que tenho com Hercules Gomes (Piano) e Rafael Abdalla (Baixo acústico) com composições de todos os integrantes. Nesse repertório, apresento composições minhas, inéditas, e alguns arranjos de Standards de jazz. Dentro disso, também tenho feito trabalhos bem interessantes como instrumentista, a exemplo da cantora Nanny Soul, com arranjos e direção musical de um grande amigo e ótimo músico Paulio Celé, uma cantora americana chamada Alissa Sanders cantando Standards de jazz, a cantora nacional Patrícia Marx, um cantor que gosto muito da nova geração de compositores paulistas, Fábio Cadore, e uma grande craviolista, dona de uma das vozes mais belas e afinadas que já trabalhei. Ainda continuo com um trabalho maravilhoso (exaltando a natureza), com Tetê Espíndola.




-- Notei em seus solos, uma intensa atenção voltada para os timbres e principalmente para o timbre da caixa, que na maioria dos momentos fica sem o som da esteira, potencializando uma identidade e originalidades suas. Como é isso para você?


Realmente, uma das coisas que desenvolvi foi a minha identificação com timbres e melodias geradas a partir das afinações que os tambores estão nos oferecendo. Isso é tão forte no meu trabalho que é o mote das minhas aulas. Tem um caso interessante e ao mesmo tempo animador quando em uma das aulas eu chego para um grande amigo, músico e baterista Paulo Almeida, e digo: “Toque o parabéns pra você na bateria! Vamos, toque!!” Ele me disse que ficou em choque, pois o que eu queria dizer com isso: “toque o parabéns...”? Foi quando despertou para ele uma nova visão em cima desse instrumento que acompanha, mas ao mesmo tempo serve como intenção melódica, ou porque não harmônica dentro da música. Nos solos ou mesmo no acompanhamento, as intenções de novas possibilidades de timbres (ex, a caixa desligada, sem a esteira) vão surgindo conforme a "cor" que o som vem provocando naquele momento, e o baterista que cria a atenção para esses detalhes pode ter um certo destaque, deixando assim de assumir o papel primo de só conduzir o grupo.

-- Alguma vez você já sentiu que influenciou algum outro artista, que não músico?


Teve uma ocasião no Festival Painel Instrumental/Festival Paralelo, que uma amiga do teatro Larissa Bassoi me emocionou muito ao ver um show do Mente Clara. Ela chegou soluçando de tanto chorar e me dizendo: "Que coisa linda, eu consegui me reportar a lugares vividos os visualizar lugares inéditos... Foi tão bonita essa viagem, e isso me fez pensar em mil coisas que podem ser diferentes no cotidiano, situações e sensações novas, e outras resgatadas da minha infância... Enfim, adorei!"


Nesse dia, eu tive mais uma confirmação, de que a música tem um simbolismo muito forte, e quando entendida pode te levar a momentos quase eternos. Muito obrigado Larissa, pode ter certeza que você também me influenciou muito. Beijo grande pra Ti.

-- O que você acha dos músicos/bateristas "atletas" ou os acrobáticos? Qual a importância da "independência" para você?



Dou valor a qualquer manifestação de esforço no sentido da manutenção e obtenção de resultados para a melhoria de sua conduta pessoal, profissional, etc. Isso não foge à regra no caso de bateristas que pensam mais "tecnicamente" o seu instrumento. Mas como havia comentado antes, minha pré-disposição para entendimento desse conglomerado percussivo é melódica, portanto uso também dos artifícios técnicos como necessidade de minha resultante interpretativa e não como ponto de partida. Admiro bateristas como Mike Portnoy, Neil Peart, um brasileiro que gosto muito, Ricardo Confessori... E veja, são todos músicos que obtiveram seus resultados e mesmo assim não deixaram a música de lado. O que teve de diferente foi o ponto de partida.


-- Que elementos, ritmos, ou estilos musicais você tem vontade de incorporar pessoalmente em sua bateria, e também no "Mente Clara"?



Hoje me sinto feliz, mas não realizado, e sim muito feliz pelo o que tenho desenvolvido rítmico/melodicamente no meu instrumento. No terceiro disco do Mente Clara, iremos apresentar uma chacarera (ritmo argentino) que tem um dos seus mais expressivos representantes, internacionalmente falando, a saudosa cantora Mercedes Sosa (1935- 2009). Ultimamente, estou pesquisando um ritmo chamado Shaabi da região de Magreb, mais específico do Marrocos. Esses dois ritmos têm uma subdivisão ternária, diferentemente da maioria dos ritmos brasileiros que tem uma subdivisão binária. Ritmos como o Boi, Cururu, Fandango, Catira, são ritmos que tenho como meta a estilização, e assim usá-los com mais frequência na vertente instrumental.

-- Diga o que quiser sobre a música em notas musicais...

Outro dia postei uma música minha que saiu no primeiro disco do Mente Clara – Eli Ferreira dos Santos – e acredito que nesse som consigo falar algumas coisas de que sinto, neste caso, saudades, pois meu pai, que é falecido, e outras mais mostrando que a vida é bela e que podemos e somos felizes. Deixo aqui minha postagem pra quem quiser ouvir:




Um forte abraço e desejando tudo de bom para todos, tendo a certeza de que a arte nos molda para uma melhor convivência entre os seres (estou escrevendo isso com lágrimas nos olhos, pois a música me traz essa emoção toda vez que reflito sobre a mesma). Ow Glória!!







Link Eli Ferreira dos Santos - Rodrigo Digão Braz - Música gravada no primeiro disco do Grupo Mente Clara. Mente Clara é: Fábio Leal (Guitarra), Franco Lorenzon (Baixo), César Roversi (Saxofones), Beto Corrêa (Piano e Sanfona).
http://soundcloud.com/search?q%5Bfulltext%5D=eli+ferreira+dos+santos






terça-feira, 9 de agosto de 2011

Paulinho "Briga" Vieira - MBB - Memória da Bateria Brasileira



Dia 03 de agosto de 2011 se iniciou o Projeto MBB - Memória da Bateria Brasileira. Este evento, organizado por Thiago Carbonari, visa documentar os bateristas brasileiros que merecem sempre ser ouvidos e lembrados. Paulinho "Briga" Vieira de Ribeirão Preto, baterista que já realizou trabalhos com artistas como Djavan e Ivan Lins, foi o primeiro homenageado. Esta primeira edição contou com a participação dos bateristas Paulinho Vieira, Christiano Rocha, Vlad Rocha e Duda Lazarini, além das cantoras Adriana Godoy, Maysa Rizzatti Gomes, e Vania Lucas. Fizeram parte também da homenagem e som do dia, André Carbonari, Bruno Barbosa, Leandro Cunha e Bidinho.



Sobre Paulinho:
"Mineiro da cidade de Araxá, Paulinho 'Briga' Vieira já trabalhou com importantes nomes da música brasileira. Entre suas gravações mais importantes como baterista estão os discos 'Comissão de Frente', de João Bosco, em 1982; 'Novo Tempo', de Ivan Lins, em 1980; e 'Alumbramento', de Djavan, em 1980. Além disso, o músico gravou com Emílio Santiago, Zizi Possi e acompanhou as bandas de Zé Rodrix, Suvuca, Elza Soares e Cauby Peixoto."

bREVE: Videos do evento.

http://www.youtube.com/watch?v=1NuRNJX_kFM&feature=player_embedded-
Paulinho "Briga" VIeira no Workshop Vários Ritmos de um Mesmo Mundo no EM&T Jabaquara. Dia 26.04.11.

sábado, 18 de junho de 2011

Patrick Laplan e Eskimo - Uma nova maneira de ser do pop


Patrick Laplan, multi-instrumentista, produtor e compositor, acaba de lançar seu mais novo projeto: Eskimo. Além de ter tocado no grupo Los Hermanos, atuou como baixista do Biquini Cavadão por um bom tempo. Desde 2010 assumiu as baquetas na gravação do primeiro cd do Eskimo (Felicidade Interna Bruta), revelando uma faceta pouco conhecida para o grande público. Além de uma intensa criatividade, Patrick explora neste projeto todas as possibilidades de se experimentar com a música pop, usando atributos rítmicos de outros estilos musicais para compor uma obra extremamente original e singular. A bateria, não por acaso, é um dos principais destaques e ingredientes das músicas.


-- Nos conte um pouco de sua trajetória na música e em cada um dos instrumentos. O que veio primeiro, a bateria ou o contrabaixo?




A bateria. Aos onze, doze anos, migrei do videogame para a música. Aos treze, ganhei uma assustadora Roll Star. Hoje, certamente teria bom uso. O contrabaixo só viria uns cinco, seis anos depois, quando me chamaram pra tocar no Los Hermanos, e quando comecei a estudar com o Nico Assumpção. Mas nunca deixei de praticar bateria.





-- Quais fatores mais pesaram para motivar sua saída do Los Hermanos?



Ahh, a pergunta de 1 milhão de dólares…



-- Suas ideias e composições eram bem aceitas pelo grupo?





Eu ainda não era compositor na época. Quanto à ideias e arranjos, sim. O processo sempre foi muito aberto e democrático.




-- Como foi o processo de amadurecimento da ideia do que hoje se tornaram as músicas e o projeto do Eskimo? Desde quando vem sendo gestado o projeto?



Tão longo que os conceitos virariam de cabeça para baixo várias vezes. A gestação não foi do projeto, e sim da pessoa, de uma personalidade. E certamente houve muita insegurança minha em terminar o que seria o objeto que finalmente me definiria, pelo menos inicialmente. Agora eu acredito que alguém pode ouvir o disco e dizer que entendeu quem eu sou. Antes disso teve muita coisa da qual me orgulho muito, mas que não dizia tanto de mim. Não quero dizer que o F.I.B. (Felicidade Interna Bruta) disse tudo de mim, mas tudo o que foi dito, foi dito por mim. E ainda tem muita coisa a ser dita. O Eskimo começou calcado em colagens abruptas (a la Mr.Bungle e Beck), climas soturnos, com um quê minimalista, "brinquedinho". Por isso o Tim Burton com seu universo "Noiva Cadáver" sempre foi citado como referência. E com o tempo, fui deixando as letras e composições dominarem o conceito e se completarem naturalmente, instintivamente. Elas estariam amarradas pelo fato de terem brotado da mesma cabeça. A gravação começou no dia 2 de julho de 2009, e terminou em 30 de agosto de 2010. Parece muito tempo, mas para um disco praticamente feito em casa, por mim e meus amigos, não acho tanto. O processo todo está no diário de bordo do nosso site. É fácil de ver a paciência que eu tinha para descrever tudo no começo, e como o texto se torna mais monossilábico no final, de tão cansativo que foi.

-- Como foi tocar bateria neste disco? Foi algo que você sempre almejou, ou o baixo sempre foi o instrumento para o qual você se dedicou e se propôs a gravar e tocar?




Maravilhosamente tenso. Imagine um baterista conhecido como baixista, que nunca teve a oportunidade devida de gravar? Era uma coisa que eu devia pra mim mesmo, e foi essa sede que levei para gravar. Se fosse para ilustrar, eu diria que o baterista Patrick (nesse disco) foi o músico menos maduro dos Patrick´s. O produtor Patrick e os outros músicos Patrick´s meio que seguraram a onda para essa "criança" poder soltar os bichos. E só dessa maneira pode haver coesão. Essa explosão não deixa de ter sua beleza, e por isso eu permiti que isso acontecesse. Não estou dizendo que as baterias do disco são imaturas, mas comparativamente foram. (Que confusão de Patrick´s. Falar de mim na terceira pessoa é imperdoável). E foi tenso porque 95% dos arranjos de bateria foram memorizados nota por nota, e eram muitas as variações, viradas e detalhes, que fariam toda a diferença. E eu sabia que não me perdoaria se eu esquecesse alguma coisa. Exigiu muito do "HD interno". Viva a auto-sabotagem, a quebra de limites, e o auto terrorismo.

-- Você consideraria a sua bateria como um dos principais meios de interlocução para a composição das músicas do Eskimo?



Não. Com exceção de "À Deriva", que foi muito calcada na bateria, a idéia sempre foi ter todos os elementos brilhando ao mesmo tempo. Melodia e letra não tiveram prioridade com relação aos arranjos. Sempre tentei fazer com que todos os elementos pudessem estar funcionando no máximo de seu potencial em 100% do tempo.



-- Cada música do álbum traz seu próprio desdobramento musical, criando uma árvore genealógica de ritmos e sons possíveis. As influências foram importantes nesse processo, ou foi mais um libertar das influências estéticas musicais?



As influências afloram naturalmente. Não foi racional ou conceitual. Se você parar pra pensar nelas, é um passo pro plágio. É uma questão de fechar os olhos e se deixar levar. Registrar o resultado, e aprimorá-lo. Ou descartá-lo, e tentar de novo. Tudo que você viveu e ouviu a vida inteira acaba saindo pelos poros, quer você queira ou não. Então melhor nem pensar sobre isso. Faça mais, e deixe pros outros pensarem sobre o que você fez.

-- Como você costuma compor? Como se caracterizou a composição das músicas no Eskimo?



Não tem regra. Umas começam pela letra, outras pela melodia. Às vezes por um arranjo, um riff, uma batida... Tanto faz o instrumento. Tocar uma coisa que você não domina pode ser bom nesse caso. Você não tem a tendência instintiva de seguir um caminho que já conhece. Abre espaço para o inesperado.



-- Como foi e é a oportunidade de trabalhar como produtor, tocar baixo, guitarra, bateria, piano, organizar arranjos, etc.? Como é ter toda essa visão panorâmica, podendo ser a autoridade do próprio trabalho?



Foi um fardo. Literalmente. Muita responsabilidade, e poucos ombros pra dividir o peso. Achei que todo o processo seria muito prazeroso, mas não foi. Foi cansativo, demandou demais. Dividir é sempre bom. Inclusive as alegrias. Não foi uma opção pelo poder em termos de ego, e sim pela estética. Ninguém conseguirá swingar com você tão bem quanto você mesmo. Agora imagine uma banda inteira respirando totalmente junta? Como um só? Era essa a idéia. E acho que valeu a pena. Consegui o resultado que queria, mas não sei se teria gás pra fazer isso de novo. Deve ser como pular de moto de um prédio pra outro. Só depois que você faz, que tem ideia da "m...." que fez. E diz: "Nossa. Fiz uma parada muito maneira. Mas... Nossa! Como sou um imbecil de ter me jogado desse prédio". Como produtor, foi um dos poucos ângulos que valeu a pena. (novamente o caso dos mil Patrick´s). Você tem noção exata de todos os "pingos dos i´s" do disco. Facilita muito pra poder amarrar as ideias ou levá-las a extremos.

-- Quais foram e são suas principais influências na bateria?



A gente vai crescendo e mudando. Quando mais novo, eu gostava muito do Dave Abbruzzese, do Tim Alexander, Fish Fisher, Sim Cain e do Igor Cavalera. Os favoritos de hoje em dia são Matt Chamberlain, James Gadson, Rafael Barata, Jojo Mayer, Chris "Daddy" Dave, Abe Laboriel Jr., Chris Pennie, Homer Steinweiss, Deantoni Parks, Nate Smith, Pupilo, Jack Irons, Duda, Rafael Rocha, e as programações absurdas do Squarepusher.



-- Somar referências e influências nem sempre traz um bom resultado para quem deseja buscar um novo som. A ordem dos ritmos altera o resultado?



Muita gente tem medo de estudar por causa disso. Tem medo de aprender as regras e bitolar nelas. Informação não atrapalha. Conhecer as regras facilita você a quebrá-las. Imite. Assimile. Inove.



-- Você acha que a música pop hoje em dia ainda tem dificuldade de assimilar o pitoresco, a singularidade?



Acho a nova geração do pop preguiçosa e desrespeitosa. Não faz questão de pesquisar as raízes do que gosta, e não tem dor na consciência de copiar descaradamente, contanto que ninguém descubra. Isso em geral, porque existem poucas e boas exceções. Talvez por isso o alternativo/experimental dessa geração acaba sendo muito mais interessante. Com o passar de gerações é mais trabalhoso ser original. Os caminhos já foram explorados. Fica difícil chegar com uma super novidade. Mas é dever do artista tentar. Você não pode se sentir pleno usando uma frase feita de alguém. E a beleza está em deixar esse "seu" ir à tona, mesmo que pequeno. É o que me faz respeitar e gostar de um artista. Estar aberto à possibilidade de ser visto de verdade.



-- Como é a questão da relação baixo/bateria para você, já que consegue percorrer os dois caminhos com fluência?



Facilita muito. É ter o conhecimento absoluto do que a outra parte está tocando, de como ela respira e flexiona o tempo. Fica muito confortável pra criar uma unidade. É preciso ter cuidado pra não cobrar uma conexão tão grande quando se toca com qualquer outra pessoa. Você aprende a valorizar mais as diferenças.

-- E como serão os shows, você vai tocar bateria, baixo, outros instrumentos, ou um pouco de cada?

Seria difícil escolher, mas as circunstâncias facilitam. A princípio eu tocarei baixo apenas. Gostaria de ter a opção de trocar em certas músicas, mas pra isso precisaríamos de alguém com mais experiência no baixo. Todo mundo toca mais de um instrumento, mas o baixo é limitado. Temos Diego Laje na bateria e percussão, Dudu "Quindim" Miguens na guitarra, violão e percussão, Fabrizio Iorio no piano e acordeon, e Cauê Nardi na voz, violão e cavaquinho. Esse é o Eskimo em shows.

-- Para verdadeiramente nadar na música, é preciso saber se afogar às vezes?

Não acho preciso não, mas toda experiência traz conteúdo. E certamente é melhor morrer tentando, do que ficar de boinha no rasinho.







quarta-feira, 11 de maio de 2011

Bateristas da Música Instrumental Brasileira

É comum certas histórias serem contadas a partir do seu final. E essa não deverá ser diferente. Mas essa não tem final, pois é o que há de mais atual.









O que se vê na música instrumental brasileira hoje é de uma rara e peculiar forma de expressão. Usando de todos os nossos atributos rítmicos e musicais, os bateristas instrumentais dessa geração influenciam cada vez mais a maneira de se produzir música no país. Estão cada vez mais estendendo seus “campos de atuação”, saindo do mundo instrumental e imantando o campo da música popular, junto a cantores e artistas renomados. Na verdade, isso não é nenhuma novidade para grandes bateristas, que no passado também acompanharam grandes artistas, mas hoje eles estão perdendo o status de “fundo de palco”, e deixando de ser apenas vislumbres de focos alheios, alcançando assim maior evidência, fato fundamental para a vitalidade da boa música.


Quem não se encantou com figuras da nossa história baterística, como Cuca Teixeira gravando shows e CDs com Marina e Maria Rita, por exemplo? Quem já não se sentiu enlevado com a fina maneira de tocar de Edu Ribeiro em aparições junto à Yamandu Costa e Thiago do Espírito Santo? Quem já não sentiu os pêlos arrepiados do sovaco ao ouvir a orquestração particular de Ricardo Mosca junto ao Grupo Pau Brasil, reinventando Villa Lobos? Quem já não se sentiu arrebatado pela magia da envergadura sonora de Kiko Freitas junto a João Bosco? E o que dizer da união de influências de música brasileira, progressiva, na maneira única e com alta carga de emoção, no álbum Ritmismo de Christiano Rocha? Existe ainda a pegada rápida e funkeada de Vitor Cabral junto com Ed Motta, a fluidez de Jonatas Sansão, a beleza da conjunção atômica de bateras tocando em dupla em um disco de Michel Leme, e muitas outras mais…







Não parece a nós, que de um tempo pra cá a bateria brasileira mais do que nunca tem influenciado a maneira de nossos cantores e artistas comporem suas músicas?

Para mim, parece claro que tal notoriedade desses Bateristas-Músicos (com a tonalidade mais forte da palavra) é uma via de duas mãos, pois tanto a música deles está dando mais visibilidade à música de cantores populares, por exemplo, como a música de cantores e artistas em geral está dando mais visibilidade para esses bateristas antes considerados como meros músicos de apoio. Vida nova à música!



A história da nossa música instrumental e os baluartes da bateria


Não é novidade para ninguém que a história da música instrumental brasileira passa principalmente pela conjunção da bossa nova, do samba e do jazz, somados aos ritmos marcantes dos folclores regionais das mais longínquas partes do país.


O Choro pode ser considerado parte da história da música instrumental do Brasil, mas os outros ritmos foram os mais “próximos” ao que podemos chamar de precursores do encaminhamento dos temas, na parte instrumental, melódica, harmônica, e estrutural.


A bossa nova em sua versão instrumental foi nomeada de “samba-jazz” no início da década de 60. Com esse novo “movimento”, as harmonias jazzísticas foram mescladas com os ritmos brasileiros, criando novas melodias e temas. De lá pra cá, não só o Brasil, mas o mundo ganhou uma nova e importante influência. O Jazz de fora bebeu direto da fonte brasileira. E os instrumentistas brasileiros, envolvidos com o Jazz, formaram grupos com repertório focados na bossa nova e no jazz instrumental. Grupos como Tamba Trio, Zimbo Trio, Milton Banana Trio, Jongo Trio, Bossa Três, Sambalanço, Quarteto Novo (de Hermeto Pascoal), e os Copa 5, lançaram as bases de uma importante parte da nossa música instrumental.


Outro importante exemplo da música brasileira é a Banda Mantiqueira. Nelson Ayres nos dá o seu testemunho sobre ela:

Os arranjos e as interpretações usam todas as técnicas da história das big bands, mas tem os pés firmemente fincados nos coretos do interior, onde muitos dos músicos tocaram em público pela primeira vez. E cada solista abandona o caminho fácil de ser apenas mais um imitador dos grandes jazzistas para procurar sua própria verdade”.

Quando se pensa em música instrumental, se pensa em Improvisação. E criar e compor a música no momento em que ela acontece é privilégio de poucos instrumentistas.


A história dos nossos maiores instrumentistas e bateristas passa pela história do samba e da bossa nova instrumental. Nomes como Luciano Perrone, Edison Machado e Milton Banana, puxaram o cordão umbilical da música instrumental brasileira. Cleber Almeida, outro grande músico da cena atual brasileira, diz sobre Luciano: “O ‘pai ’ da bateria brasileira é o Luciano Perrone, que criou uma maneira própria de tocar samba quando nem o kit do instrumento era muito definido.”


Milton Banana, dono de um estilo singular, trouxe sua batida com uma forma única para a bossa nova, impronunciável aqui em palavras.

Edison Machado recortou o samba e criou o chamado “Samba no Prato”, mudando a perspectiva sonora que antes ficava somente a cargo dos tambores e da caixa.


Qualquer tentativa de tentar resumir aqui, algo da história da música instrumental brasileira, vai frustrar qualquer leitor e músico… Pascoal Meirelles, Wilson das Neves, Paulinho Vieira, Erivelton Silva, Celso de Almeida, Tutty Moreno, Duduka da Fonseca, Carlos Ezequiel e muitos outros, fizeram e fazem parte dessa história.


Mas vamos esboçar uma particular e importante parte dessa narrativa histórica: Os grandes bateras que passaram pelos grupos de Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti;


Segundo a pesquisadora Marina Beraldo Bastos, “as obras de Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti foram muito importantes para a formação da música instrumental como um gênero pleno, com termos temáticos, estruturais e estilísticos relativamente estáveis.”


Os bateristas de Hermeto Pascoal


Para mergulharmos na história dos bateristas de Hermeto, naturalmente é preciso caminhar na bela construção musical e percussiva do próprio Hermeto, que desde cedo, obteve seus alicerces musicais na natureza que o cercava. Pelos sons dos pássaros cantando, e pela ordem natural da nascente das corredeiras das águas que passavam próximas a sua casa, poderíamos procurar as fontes da obra de Hermeto. Ele costumava passar horas tocando e tirando sons da água da lagoa. Os sons da natureza talvez o inspirassem não desde pequeno, como diz sua biografia, mas talvez desde sempre, pois as figuras humanas vêm e vão, e talvez ele já tenha sido outras partes da natureza, para incorporá-las com tanta facilidade em seu som. O empirismo agudo dedicado na sua forma de compor e de pensar música foi criando os rastros por onde seus futuros bateristas e percussionistas não poderiam desviar para não se perder dos caminhos belos e tortuosos de sua complexa arte musical. O caminho sempre foi o da riqueza rítmica e percussiva de suas composições.



A história da “Música Universal” de Hermeto Pascoal sempre obedeceu aos mesmos princípios: Liberdade, naturalidade, e inexistência de limites, calcando sempre seu som pelo conceito de Boa Música.


E é com esse conceito que foi dada a partida à jornada musical de Hermeto...


O primeiro disco oficial de Hermeto foi o LP “Hermeto”, gravado e lançado nos EUA, com a assinatura baterística de Airto Moreira.


Em 1965, no disco “Em Som Maior”, veio mais uma aparição de Airto Moreira na bateria e percussão. Foi com Airto que os primeiros passos em direção à criação do aclamado conjunto “Quarteto Novo” foram dados. O grupo já existia com o nome de “Trio Novo” antes da entrada de Hermeto. O primeiro e único disco do grupo se chamou “Quarteto Novo” e se deu em 1967 com participações de grandes nomes da música brasileira, como Heraldo do Monte. Foi nesse disco que apareceram as famosas composições de Hermeto, como “O Ovo” e “Canto Geral”. O Quarteto se consagrou por misturar ritmos nordestinos com arranjos jazzísticos, impulsionando a carreira de Airto Moreira como percussionista pelo mundo.


Com o disco “A Música Livre de Hermeto Paschoal”, de 1973, iniciou-se a trajetória de Nenê na bateria hermetiana. Gravou dois famosos discos, “Zabumbê-bum-a” e “Hermeto Pascoal ao vivo em Montreux”. Nenê, até hoje, é um dos bateristas mais celebrados da música brasileira, por sua identidade, talento, e por ter tocado em discos antológicos junto a artistas renomados como Milton Nascimento e Elis Regina.


Nenê dá seu depoimento sobre o que era tocar com Hermeto: “Para mim, foi superimportante ter participado da vida musical deste excepcional músico. O Hermeto Pascoal foi quem me mostrou os ritmos brasileiros, o que me foi de grande valia. Dos discos que gravei com ele, três deles, 'A música livre de Hermeto Paschoal', o primeiro do Grupo, 'Zá-Bum-Be-Bum-Á' e "Live in Montreux", considero de suma importância para minha carreira. O Hermeto foi um dos meus mestres.”



Zé Eduardo Nazario foi outro importantíssimo baterista brasileiro, que não por acaso, passou pela “escola” de Hermeto. Fez sua estreia no grupo em 1973 e permaneceu até 1977, tocando bateria e percussão e fazendo apresentações memoráveis nesse período. Participou com Hermeto no Festival Abertura da Globo em 1975, onde a composição "O Porco na Festa" obteve o prêmio de melhor arranjo do Festival. Nesse arranjo, Hermeto escreveu uma introdução especialmente para a performance de Zé Eduardo Nazario na então inédita "barraca de percussão", de criação de Zé e mostrada pela primeira vez na televisão brasileira. Zé Nazario comenta sobre seu percurso com o mestre: "Toquei bateria e percussão com o Hermeto num momento muito especial da nossa história... Foi um grupo que quebrou barreiras até então intransponíveis no que diz respeito à criatividade, inovação, energia e coragem de mostrar ao público um novo caminho para o músico e a música brasileira e mundial, que influenciou a todos, tanto aos mais experientes quanto aos mais jovens, e aos que vieram depois."


Zé também participou do disco "Imira, Tayra, Ipy, Taiguara", onde tocou percussão e bateria. Nos anos pós-hermeto, Zé trabalhou também com Milton Nascimento, John McLaughlin e Joe Zawinul.

Os anos 80 começaram com Alfredo Dias Gomes na bateria do disco “Cérebro Magnético”.


Em 1982, iniciou-se a fase em que Márcio Bahia assumiu as baquetas, no álbum “Hermeto Pascoal e Grupo”. Trazendo sua autêntica vibração advinda do seu consistente toque, Márcio conseguiu dar um caráter extremamente preciso e suingado à música de Hermeto.

Os discos mais essenciais e importantes de Márcio Bahia com Hermeto foram “Hermeto Pascoal e Grupo” de 1982, “Só não toca quem não quer” de 1986, e “Festa dos Deuses” de 1991, que mostraram toda a fluência e dinâmica de Bahia.

Márcio Bahia toca e já tocou com grandes nomes do cenário musical, como: Hamilton de Holanda, Marco Pereira, Vittor Santos, Leny Andrade, Jhonny Alf, Marcos Valle, João Donato, Carlos Lira, Roberto Menescal e Wanda Sá, Joyce, Gilson Peranzetta, João Bosco, Maria Bethania, Leila Pinheiro, Eliane Elias, David Friedman, Thijs Van Leer (Focus), Baden Powell, Toquinho, Ednardo, Fagner, entre outros.

Ajurinã Zwarg completa a série de bateristas que passaram pelas formações de Hermeto. Atualmente, Ajurinã é um dos bateristas de Hermeto Pascoal e Grupo ao lado de Márcio Bahia, que foi um dos responsáveis pela sua iniciação musical na bateria.




Depoimento pessoal de Hermeto sobre seus bateristas

De forma objetiva, e não por isso menos passional, Hermeto comenta sobre todos os bateristas que passaram por sua vida:


Todos que trabalharam comigo contribuíram muito, com seu jeito pessoal e musical. Por isso, chamo minha música de Música Universal. Não comparo um ao outro, nem cito as características individuais de cada um… As gravações estão aí para cada um ouvir... Tenho um imenso carinho por todos os bateristas que tocaram e tocam comigo.”


Egberto Gismonti e sua turma percussiva


Egberto Gismonti tem uma afinidade muito especial com Hermeto: Multi-instrumentista, compositor e arranjador, ele é dono de uma sensibilidade apurada e vive a música com uma alta dose de experimentalismo, sempre.


E de tal afinidade, já seria normal se esperar que o vértice rítmico de seus grupos fosse comandado pelas baquetas de músicos que também passaram pelas formações de Hermeto.

Cabe destacar aqui no histórico das formações musicais e álbuns de Gismonti, o disco “Sanfona”, com Nenê na batera.


Sobre Egberto, Nenê diz: “O Egberto, dono de uma sonoridade única no piano e de um modo de improvisar totalmente original, além de um senso rítmico muito apurado, me proporcionou uma execução na bateria expressamente aberta e polirrítmica. Dos discos que gravamos, gosto de todos, mas, o disco "Sanfona" é o meu preferido. Violão também é um instrumento em que ele é mestre.”


Além de “Sanfona”, outro grande disco da carreira de Egberto foi “Academia de Danças”, de 1974, com Robertinho Silva na bateria.


Egberto Gismonti, num show, confessou: “Não tenho medo da música”… Negação de um medo, que é sabido e enfrentado pelo músico, sendo acompanhado em sua filosofia por bateras como Robertinho, que desde cedo enfrentou o “medo”, e com sua batida forte, foi se tornando um dos mais requisitados percussionistas e bateristas da música brasileira, tocando com nomes como João Donato, Gilberto Gil, Toninho Horta, Gal Costa, João Bosco, e outros do exterior, como Wayne Shorter, Sarah Vaughan, George Duke, Moacyr Santos, Airto Moreira, Flora Purim, Egberto Gismonti, Ron Carter.


Robertinho ainda lançou, com participações de Egberto Gismonti e Raul de Souza, seu primeiro disco solo em 1981, “Música Brasileira Popular Contemporânea”. Ele, atualmente, está voltado à carreira solo e à pesquisa dos ritmos folclóricos do Brasil.


Colaboraram ainda em discos de Egberto Gismonti o percussionista Naná Vasconcelos (“Dança das Cabeças” e “Duas Vozes”), Zé Eduardo Nazario (“Nó Caipira”), e Airto Moreira.


Cabe finalizar aqui, usando o exemplo de Gismonti e seus bateristas, que a música e a bateria instrumental brasileira estão no ápice de suas formas, se orientando cada vez mais para estruturas complexas, num universo em expansão sonora de texturas e dialetos musicais.


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por caio garrido



Parte desta matéria foi incluída e publicada na edição de março/2011 da Revista Modern Drummer Brasil

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Dicas de CDs 2011

Olá, pessoal, após um breve período sem postagens, segue algumas dicas de CDs deste início de 2011:


Mente Clara
São Benedito





Como todos sabemos, a corda muito esticada estoura, e muito esgarçada não vira música. É a Teoria do Caminho do Meio, do equilíbrio. Neste segundo álbum, o Grupo “Mente Clara” atingiu a estatura necessária para não se desequilibrar e andar com as próprias pernas, com desenvoltura e elegância. Apoiados na estética da Música Universal de Hermeto Pascoal, conseguiram ir mais longe para o encontro com uma identidade musical mais própria e apurada. São Benedito que nos ouça, e que ouça Mente Clara também!

http://www.myspace.com/grupomenteclara




Thiago Righi - Aprendendo a ser só



Nem só de boas improvisações vive a música instrumental. Os bons arranjos, além de essenciais, fazem parte das arestas da arquitetura de uma bela obra. E toda obra deve ter um belo acabamento. É o que acontece no álbum "Aprendendo a ser só" de Thiago Righi, guitarrista e compositor brasileiro, com destaque para a música Macondo, nome provavelmente inspirado na literatura. Na emboscada da música, é imprescindível aprender a ser só, singular, original, mas bem acompanhado, se não, vai acabar na "terceira margem do rio".

http://www.myspace.com/righithiago




Nelson Faria & Frankfurt Radio BigbandLive in Frankfurt


Este é um CD de Nelson Faria, gravado ao vivo em Frankfurt, Alemanha, com a Hr-Bigband (Frankfurt Radio Bigband) com regência de Örjan Fahlström e tendo como convidados especiais Kiko Freitas na bateria e Ney Conceição no baixo.
Para quem já conhece o Grupo “Nosso Trio”, este trabalho vem como uma extensão do mesmo. Nelson Faria e Ney Conceição renovam os limites às vezes estreitos da música instrumental. Kiko Freitas (que não precisa mais provar nada para ninguém) prova mais uma vez sua capacidade de transcender o purismo que habita determinadas searas da música instrumental brasileira. É ouvir pra crer.

http://www.nelsonfaria.com/music/www.nelsonfaria.com_music/live_in_frankfurt.html

sexta-feira, 11 de março de 2011

Grupo Mente Clara - Show da turnê do disco São Benedito


Mente Clara, concepção em evolução.


O grupo de música instrumental brasileira 'Mente Clara' está em fase de divulgação de seu segundo disco, "São Benedito", recentemente lançado, onde "pode-se perceber a evolução individual dos integrantes bem como da composição e gravação, tornando o grupo um dos maiores representantes da música brasileira aqui e no exterior."


Segundo o grupo, "as composições, desta vez, valorizam o espaço para o improviso, navegando por diversos ritmos, com grandes temas e harmonias bem cuidadas, como legítimos continuadores da "música universal" sugerida por Hermeto Pascoal."

O show irá acontecer:

DIA 17/03 (QUINTA), AS 21:00 MIN
no SESC POMPÉIA
PARTICIPAÇÃO DA CANTORA MANUELLA CAVALARO.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Tocando para a Música – João Viana



Não deixa de ser uma surpresa cada vez que podemos ver João Viana no palco com sua Yamaha… João toca para a música, essa é a melhor definição para ele. Não importa já ter tocado com seu pai (Djavan), Cássia Eller, ou qualquer outro grande artista, ele continua mostrando sua simples elegância no tocar. Na turnê recente do show “Muito Pouco” de Paulinho Moska, João Vianna consegue mais uma vez mostrar o bom gosto e escolha dos timbres de sua bateria, a sabedoria em orquestrar seus arranjos, se afinando aos arranjos de Moska e grupo, e impulsionando e trazendo muito mais vigor para as músicas, provando que um show é um encontro.

http://www.youtube.com/watch?v=dqAdoDZdDn8


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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Vitor Cabral – Entrevista p/ a Revista Modern Drummer fev/2011



Vitor Cabral, baterista já entrevistado anteriormente pelo Blog Música Contemporânea, volta à pauta novamente pela entrevista concedida à Revista Modern Drummer Brasil.

Vitor está entre os novos talentos da bateria que estão surgindo no país, e com certeza já saiu na ponta. Ele compartilhou sua música com mestres cono Roberto Sion, Helio Delmiro, Bocato, Ed Motta, entre outros.

Veja um pequeno trecho da entrevista que consta na edição n° 99 de fevereiro/2011.


-- Vitor, gostaria que você me contasse um pouco da sua trajetória e formação musical.

Bem, inicialmente eu comecei meus estudos no piano, quando tinha 8 anos de idade. Entre idas e vindas, troquei pela bateria aos 13, quando comecei a tocar na igreja, já que venho de uma família cristão-protestante. Isso foi, no começo, a minha "escola", e sou muito grato por ter tido essa oportunidade, pois além de ser uma forma bastante didática de começar, é possível se criar um relacionamento com a música um pouco diferente dos demais. Nesta mesma idade, ingressei na Fundação das Artes de São Caetano, uma escola bem conhecida no ABC Paulista, mas que eu pouco estudei o instrumento de fato, acho que um ano somente, perto do final do curso, mas aprendi muito das matérias consideradas "teóricas", como percepção, apreciação, conceitos básicos de harmonia, contraponto e assim por diante, além de ter tido contato com outros músicos e ser apresentado à música sob uma outra perspectiva. A partir disso eu fui me lapidando musicalmente, procurando ouvir os mais velhos, mesmo que nem sempre o espírito jovial me permitisse. Tive um recesso musical de alguns anos na minha adolescência por questões financeiras e pessoais, e acabei voltando definitivamente há uns 3, 4 anos, quando ingressei no grupo do trombonista Bocato. De lá prá cá voltei a estudar e agora também a trabalhar somente com música.

-- O que o levou a tocar com o Ed Motta?

No caso do Ed, em uma ocasião, ele estava em São Paulo e queria conhecer uma rapaziada nova do "Jazz". O Leandro, pianista que já tocava com ele, juntou um pessoal. Ele curtiu, e depois de um ano, estava precisando de baterista e me ligou.

-- Que cuidados o baterista deve ter na estruturação de sua capacidade de improvisação, na música instrumental corrente hoje no Brasil e no mundo?

Acho que a coisa mais importante a se evitar é aquele tipo de discurso prolixo, onde você fala, fala, mas não diz nada. Normalmente, quem tem muita técnica pode cair nisso, mas não somente esses…

-- Que dificuldade teórica e prática você teve mais dificuldade de desenvolver até hoje no seu percurso de estudos? O que você acha que ainda falta racionar e integrar ao seu progresso musical?

Minha caminhada musical começou ontem, portanto, tenho muita dificuldade ainda em tocar o que realmente estou ouvindo internamente, e se consegui realizar isso duas vezes na vida, é muito.


-- Para o groove do funk, a palavra de ordem pra você é samplear ou simplificar? Ou nada disso?

Acho que para qualquer "groove" a palavra de ordem é "repetir".

Continua…
http://www.myspace.com/revistamoderndrummer
http://www.editoramelody.com.br/home/index.html



vídeos de Vitor:
http://instrumentalsescbrasil.org.br/ui/show.aspx?id=193 – Vitor e Ed Motta




http://www.youtube.com/watch?v=uhG41a729R0&feature=player_profilepage - c/ Sidiel Vieira- só batera e baixo

sábado, 8 de janeiro de 2011

Atila Tini - Fotografia de Palco

Fotografia...
Palco...
Grandes músicos...

... Ingrediente perfeito para um casamento entre a Arte do retrato e o mundo da música.

Atila Tini, fotógrafo de palco e músico, atravessa esse campo não-minado com belas fotos. Confira aqui entrevista realizada com ele e algumas fotos de seu trabalho.



-- Conte-nos um pouco da sua história/biografia...

Sou músico e fotógrafo, nascido em São Paulo. Na música, toco baixo (com menos freqüência do que eu gostaria...) em alguns poucos bares de São Paulo. Estudei Arranjo e Composição com o Ricardo Simões e escrevi um pouco de arranjos para big bands e banda sinfônica. Escrevi algumas peças didáticas modais, uma ou outra peça solo para alguns instrumentos de cordas. Mas meu foco está na música instrumental, ao vivo. Amo jazz nas suas formas mais sofisticadas, o que inclui a bossa nova e nossos melhores compositores. Amo a execução em grupo da música improvisada. Na fotografia, comecei garoto, depois que ganhei uma Minolta A5 do meu pai. Quando eu tinha uns 12 anos, minha mãe me autorizou a trabalhar de auxiliar no japonês fotógrafo perto de casa, depois de certificar-se de que o japa não era nenhum tarado. O cara era o máximo; aprendi a revelar, ampliar e retocar no negativo, com grafite. Os clientes das fotos 3x4 que apareciam não tinham a menor idéia do senso estético do japa. Foi minha primeira escola, e dei sorte de entrar nesse mundo muito antes da fotografia digital.

-- Quais são seus trabalhos atuais?

Tenho trabalhado para músicos amigos, na maioria das vezes, e também muito por indicação. Ultimamente andei fazendo A Kesia, Nilton Leonarde, Ary Holland, Marcelo Calderazzo e a São Paulo Ska Jazz. Fiz Vitor Cabral, fiz Leandro, fiz Paulinho Vicente, Bocato, Rubem Faria, Duda Neves, Nina Novoselecki. Fiz fotos não contratadas também, como o Ed Motta. Estava lá para fotografar o Vitor Cabral e disparei contra o Ed. Fiz várias fotos dele. Em duas pelo menos ele próprio me entregou a imagem. O cara é muito experiente. Uns anos atrás fiz o Ron Carter, em Nova Iorque.

-- Como é viver nos bastidores da música, como você se sente em relação a isso?

Eu lido legal. Sei como é a dinâmica de palco e da música improvisada. Minhas fotos parecem com isso. Por isso que, quando posso, escolho as imagens na hora dos solos. É a hora da composição em tempo real.

-- Como você chegou a entrar nesse meio da Fotografia de palco?

Apenas por associar música (minha maior paixão) com fotografia, por proximidade. Fotógrafo desde criança, e músico desde a adolescência. A máquina sempre esteve por perto, assim o caminho foi natural. Nem sei dizer direito quando passei a fotografar música... Como atividade profissional, remunerada, a fotografia de palco é uma atividade que já tenho há uns 5 anos. Fiz bastante foto/jornalismo antes disso.

-- O que foi evocado em você para que fosse um fotógrafo de músicos, a música propriamente dita ou a paixão pela fotografia...?

Não sei formular direito a ponto de descobrir se houve uma relação tão simples de causa e efeito. A música esteve sempre lá, e fotografar ação de palco nasceu como uma tentativa de perpetuar instantes de criação, mas na forma paradoxal de um "testemunho silencioso".

-- Ser fotógrafo de palco é sua especialidade, ou você trabalha com outro tipo de fotografia?

Faço retratos, sobretudo. A fotografia de palco é retrato aplicado a músicos quando atuam. Se for para classificar, faço retratos de pessoas, especializados em ação de palco. Faço cidades também. Já fiz bastante fotojornalismo como freelancer e fiz foto de turismo e publicidade também, mas fora retratos, acho tudo isso meio sacal. É possível que eu mude de ideia também, e faça mais fotojornalismo. Estou com vontade de iniciar projetos documentacionais relacionados com questões humanitárias e de meio-ambiente.

-- Você tem alguma relação especular entre o que você fotografa e o que você também gostaria de ser ou de fazer?

Toquei - e toco de vez em quando - com várias pessoas que já fotografei. Fotografar ação de palco, no meu caso, que também conheço o outro lado, não chega a ser uma continuação, ou sequer uma substituição do ato e do efeito de produzir música. Isso seria bobagem; a música é tão sublime que torna a outra arte (a captura da imagem no instante preciso) uma manifestação acessória. A fotografia, contraposta à música, não é menor. É apenas outra. Para ser meio “rodrigueano”, não sei se sou casado com a Música e tenho a Fotografia como amante ou se é o contrário. Na lógica amoral do infiel, "amo as duas igualmente".


Mais informações: http://www.atila.tini.com.br/





Os melhores discos que ouvi em 2010









Olá pessoal, vai aí uma lista minha dos discos que mais gostei de ter ouvido em 2010. Reparem que não é a lista dos discos lançados este ano (apesar de estarem alguns na lista), mas sim os que ouvi este ano. Abrs...

- Esperanza Spalding - Chamber Music Society

- Moska - Pouco

- Transatlantic - The Whirlwind

- Art Taylor - Taylors tenors

- Muse - The Resistance

- Michel Leme -

- Verônica Ferriani - Sobre Palavras (c/ Chico Saraiva)

- Trio Curupira - Pés no Brasil, Cabeça no Mundo

- Renato Consorte - Danças

- Christhiano Rocha - Ritmismo
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- Trombone Shorty - Backatown