quinta-feira, 18 de março de 2010

Christiano Rocha – Ritmismo – Entrevista Parte I


Ritmismo, CD capitaneado pelo baterista Christiano Rocha, é uma obra extremamente instigante pelas várias vertentes musicais presentes. Idealizado com muito bom gosto, Ritmismo mostra que Christiano e sua trupe não se intimidam em criar uma música que rompa com estruturas e que ao mesmo tempo consiga deixar-nos repletos de espaços novos para circular a criatividade.
Vejam mais nessa primeira parte da entrevista um pouco sobre a gravação do cd e abaixo vídeos e links de Christiano… Abrs!


-- Com quais projetos musicais (gravação, ao vivo) você está envolvido no momento?


Continuo “insistindo” com meu quarteto, composto pelos senhores Cláudio Machado (baixo), Bruno Alves (teclados) e Fábio Santini (guitarra), músicos excepcionais com quem tenho muito orgulho em tê-los comigo. Já fizemos alguns shows, como no Sesc São José dos Campos, Auditório da EM&T, Teatro Décio de Almeida Prado, Willi Willie Bar, além de um programa na TV Cia da Música (Programa Edu Letti).
Acabou de sair do forno o segundo CD da cantora Adriana Godoy, Marco, no qual gravei sete faixas e assinei a co-produção. É um disco de música brasileira e tem a participação do Triálogo, com o excelente Percio Sapia na bateria, além de Filó Machado, Léa Freire, Daniel D’Alcântara, Cláudio Machado, Débora Gurgel (que assinou os arranjos e a direção musical) e Itamar Collaço, entre outros. Em breve, deveremos começar os shows de lançamento.
Gravei o CD Lightwalk, do tecladista Corciolli, que é um trabalho mais na linha do chamado new age e world music (se bem que toda música é world, afinal todos nós fazemos parte de algum mundo, geralmente o mesmo!) mesclado com pop, metal e rock progressivo. O trabalho contou com Tony Levin, Naná Vasconcelos, Andre Matos, Ulisses Rocha, Marcus Viana, Sylvinho Mazzuca, Renato Martins, inclusive meu parceiro Cláudio Machado (baixista), com quem toco há mais de vinte anos. Em breve sairá o DVD também, que é o registro do primeiro show que fizemos, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.
Saíram duas coletâneas das quais fiz parte, completamente antagônicas. Uma do saudoso Wander Taffo, num CD duplo (Wander Taffo), em que foram utilizadas duas faixas do CD Ritmismo: “Na Estrada”, composta pelo Wander, e “Sons do Silêncio”, uma bela balada. Aliás, tive a felicidade de entrar na Banda Taffo. Chegamos a fazer um ensaio e ficamos todos muito animados, mas aí o Wander nos deixou. A outra coletânea é da cantora Eugénia Melo e Castro (DuetosX16), um disco meio “Brasuca hi tech” (tipo samba com chibal de 12” ), apesar de ela ser portuguesa. Gravei três faixas, duas com o Chico Buarque e outra com a Adriana Calcanhoto. O CD conta também com Tom Jobim, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gal Costa, Gonzaguinha (minha faixa predileta), Ney Matogrosso, Carlos Lyra, Simone e Paulo Jobim.
Recentemente, toquei com a orquestra Arte Viva, do maestro Amilson Godoy. Trabalho regularmente com uma banda que toca no circuito noturno de São Paulo, como o Bourbon Street, eventos, casamentos, formaturas, o que vier. Também faço alguns shows com o cantor e compositor Peninha, além de “subs” para alguns de meus colegas e amigos (Karnak, Havana Brasil, Marisa Orth etc.). Às vezes toco “de curtição” numa banda que interpreta músicas do guitarrista Carlos Santana, o Kaduna, que tem um congueiro e um timbaleiro magníficos (Enio Di Bonito e Markinhos Tessari, respectivamente).
Acho importante ressaltar que já passei (e provavelmente ainda vou passar) por fases com pouquíssimas gigs. Isso acontece, é normal, faz parte de nossa profissão, mas não podemos desanimar e nos deixar abater. Acho que devemos manter, dentro do possível, uma atitude positiva. Faz parte do jogo.


- Como foi a ideia e consecução da gravação do CD Ritmismo? Como foi esse processo, que foi dado em cerca de 6 anos?!


A resposta “normal” seria “ah, foi um barato”, mas, na verdade, foi um processo lento, às vezes frustrante (principalmente quando acabava minha grana) e doloroso – desde mexer naquela música que traz à tona sentimentos e pessoas guardados convenientemente numa caixa lacrada e empoeirada, no fundo do coração, até ter de encarar suas limitações, como músico e ser humano. Não tem jeito, crescer dói! Como dizem, envelhecer é inevitável, crescer é opcional. Em contrapartida, quando você ouve o trabalho pronto, é muito gratificante. Carrego alguns arrependimentos sim, mas fazer esse disco certamente não é um deles. É comum ouvirmos alguém falar que seu primeiro CD não ficou como queria, mas, definitivamente, não foi o meu caso. O CD ficou melhor do que eu havia sequer sonhado, graças ao talento e a generosidade das pessoas envolvidas no projeto, além de uma pré-produção detalhada e uma pós-produção cuidadosa, feita sem pressa. Uma das coisas que aprendi com os grandes produtores é que é fundamental chamarmos as pessoas certas (não tem como um solo do Arthur Maia ficar “meia boca”, por exemplo). Enfim, a consecução foi bem mais prazerosa que a ideia em si, que beirou o traumático.

-- O músico sempre está na busca do timbre perfeito, principalmente o baterista. Notei uma grande “aderência” do som dos outros instrumentos à sonoridade da bateria e de cada nota tocada. Como foi esse processo de maturação dos arranjos? Foi tão longo quanto o tempo para o lançamento do cd?


Uma boa timbragem é vital. Faz toda a diferença. Assim como a concepção de timbragem, o processo de maturação dos arranjos, pré-produção e pós-produção foi longo e muito bem pensado. Sou muito criterioso em tudo em que ponho a mão (lê-se “chato”), ainda mais quando sou eu quem assina, pois se algo der errado, a culpa é minha! Os arranjos, as formações, os timbres (não só de bateria) foram muito bem escolhidos. Existem, por exemplo, timbres de teclado com cinco sons diferentes somados. Tudo isso demanda tempo e paciência. Mesmo assim algumas coisas tiveram de ser regravadas. Tudo foi pensado (ou sonhado), analisado, discutido e posto em prática. Não teve esse lance de “vamos tocando, ‘sentindo’ e ver no que dá”, no meio das sessões de gravação. Não tenho nada contra esse tipo de processo, apesar de que no Brasil parece que é feio ensaiar e maturar um som. Não sou genial e tenho minhas limitações. Se músicos como Pat Metheny, Frank Zappa, Hermeto Pascoal, Olmir Stocker e Chick Corea, que são geniais, ensaiaram e pesquisaram exaustivamente, porque um cara normal que nem eu não faria o mesmo?
Acho que em tudo na vida precisamos ter referência. Depois que você prova uma mostarda Dijon fica difícil engolir a mostarda de saquinho do Mac Donald’s, assim como casar com a primeira namorada deve ser meio complicado. O triste é que os padrões parecem piorar. De Big Brother às relações interpessoais.



http://www.youtube.com/watch?v=hhJiBx7hRH8 - Circular Paulista
http://www.christianorocha.com/ - no link Ritmismo – download da faixa título
http://www.myspace.com/christianorocha